«A missão conservacionista do Estado é crucial»

Benvindo Maçãs, investigador do INIAV, é um especialista e apaixonado pelo melhoramento de plantas. Nesta entrevista fala do papel do Estado como guardião dos recursos vegetais, dos êxitos obtidos com variedades portuguesas e da parceria de longa data com a Lusosem.

 

Entrevista a Benvindo Maçãs, investigador do INIAV

 

Qual a missão da unidade de investigação que lidera?


Esta é uma das 4 unidades de investigação do INIAV, visa a conservação dos recursos genéticos vegetais e animais e a promoção da sua utilização sustentável em programas de melhoramento e uso direto para produtos específicos. Como entidade pública temos obrigação de conservar para o futuro o património genético nacional, fazendo face ao aparecimento de eventuais doenças ou outras ameaças às espécies vegetais e raças animais.

 

Trata-se de conservar apenas as variedades tradicionais?


Não. O recurso genético é toda a variabilidade genética que existe em determinada espécie agrícola ou animal, desde o material mais antigo, a tudo o que foi ou está a ser trabalhado em determinada variedade/raça. O Banco Português de Germoplasma Vegetal, sediado em Braga, tem a função de conservar o património genético vegetal. Alberga 45.000 amostras de 150 espécies e 90 géneros de cereais, leguminosas para grão, plantas aromáticas e medicinais, fibras, forragens e pastagens, culturas hortícolas e outras espécies.

 

Quais os programas de melhoramento de plantas a decorrer no INIAV?


Os programas de melhoramento genético, localizados na estação do INIAV em Elvas, reportam a grandes culturas da zona mediterrânica – cereais, leguminosas para grão, pastagens, forragens e oliveira. O programa nacional de melhoramento de arroz está sediado no Cotarroz, em Salvaterra de Magos, com a supervisão e parceria do INIAV.

 

Que variedades vegetais foram obtidas pelo INIAV até agora? 


O INIAV criou e lançou no mercado variedades de trigo mole, trigo duro, triticale, aveia, grão-de-bico, fava, tremoço, feijão-frade e ervilha e também variedades de espécies pratenses (trevo subterrâneo, serradelas, festuca, etc). Temos 40 variedades inscritas no Catálogo Nacional de Variedades. A título de exemplo, desenvolvemos variedades de grão-de-bico, cuja semente está a ser produzida por 2 grandes cooperativas francesas, a quem vendemos os direitos de comercialização. Grande parte do grão-de-bico produzido em Portugal provem dessas variedades obtidas pelo INIAV. Por outro lado, as nossas variedades de trevo da Pérsia – Maral e Resal – são usadas em pastagens e cobertura de solos agrícolas em toda a Europa. 

 

Como tem o INIAV evoluído nas relações de parceria com a iniciativa privada visando a transferência de conhecimento?


A nossa grande prioridade é manter este tipo de parcerias que envolvem produção, indústria e investigação. O INIAV tem sido um parceiro extremamente importante em projetos como o Clube Português dos Cereais de Qualidade, do qual surgiu, após muitos anos de trabalho entre estes 3 parceiros, a Lista de Variedades Recomendadas (LVR), que hoje determina as escolhas dos agricultores em cada campanha de trigo mole e trigo rijo. Os agricultores seguem a LVR porque sabem que as variedades recomendadas têm a aptidão industrial necessária e, portanto, escoamento garantido. Outro exemplo é a cevada dística para malte. Há mais de 15 anos que o INIAV desenvolveu uma LVR para a Maltibérica, mais tarde alargada à malteria da Central de Cervejas, no âmbito da Associação Portuguesa dos Produtores de Cerveja. Conseguimos que os agricultores entreguem lotes de cevada mais homogéneos e ajustados às necessidades da indústria cervejeira. A Escola Superior Agrária de Beja tem sido um parceiro fundamental em ambos os programas.

 

 A Lusosem é parceria do INIAV no desenvolvimento de novas variedades de cereais e proteaginosas. Que mais-valias decorrem desta parceria para a agricultura nacional?

A Lusosem tem sido um parceiro fundamental, está há muito tempo envolvida nos ensaios de variedades realizados pelo INIAV, nomeadamente, os que dão origem à LVR da cevada dística e do trigo. A Lusosem representa algumas das nossas variedades: o trigo rijo Celta, o triticale Alter, a aveia Santo Aleixo e a ervilha Pixel. Mais recentemente, temos realizado ensaios com espécies forrageiras estrangeiras, entre os quais o azevém, para a Lusosem, das variedades que a empresa representa em Portugal.

 

A semente certificada obtida de variedades melhoradas é uma mais-valia para a agricultura nacional, no entanto, que argumentos usar quando o preço da semente não certificada é mais aliciante para os agricultores?


Não haverá progresso no melhoramento genético se não houver investimento e retorno desse investimento. O melhoramento requer o pagamento de royalties pelas variedades melhoradas. O Estado português ainda investe alguma verba no melhoramento de espécies autogâmicas (linhas puras, que não sendo hibridas podem ser ressemeadas pelos agricultores), o que faz com que a utilização de semente certificada seja reduzida. Mas estamos a trabalhar na sensibilização da produção para garantir que há progresso. Do ponto de vista técnico, a semente certificada é a garantia de que estamos a utilizar o que está descrito no rótulo. 

 

O arroz é uma das culturas em que a Lusosem tem colaborado com o INIAV em campos de demonstração e ensaios de novas variedades. O que está a investigação nacional a fazer para tornar a fileira do arroz mais competitiva? 


O INIAV iniciou há 15 anos o Programa Nacional de Melhoramento de Arroz, com vista a desenvolver variedades mais adaptadas às condições edafoclimáticas do nosso país e ao gosto dos consumidores portugueses, que são os maiores consumidores de arroz da Europa. 

 

Está para breve o lançamento de variedades nacionais de arroz?


Temos em vista um genótipo de arroz carolino, já testado do ponto de vista culinário e industrial, com muito boa aceitação para uso em refeições pré-cozinhadas. Esta variedade está pelo segundo ano em concurso para entrar no Catálogo Nacional de Variedades e poderá vir a ser inscrita em 2017. O INIAV/Cotarroz fará eventualmente a cedência de direitos de venda da variedade a uma indústria, que realizará contratos de produção com os agricultores. O modelo de comercialização será discutido de forma transparente com todos os parceiros com assento no Cotarroz. 

 

O Plano Nacional para os Recursos Genéticos Vegetais foi apresentado há cerca de um ano. Que resultados práticos foram obtidos até agora?


O primeiro resultado prático foi a sensibilização dos políticos para esta questão. A meta para o primeiro ano do Plano era conseguir inventariar os recursos genéticos vegetais (coleções de várias espécies), existentes nos campos do INIAV, noutras instituições públicas e privadas e no Banco Nacional de Germoplasma, de modo a criar um mapa nacional. Portugal é riquíssimo em recursos genéticos vegetais e há muito trabalho feito, mas ainda não divulgado.

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