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O LIBBIO*, um consórcio de 14 parceiros – 11 entidades públicas de investigação e três empresas privadas de oito países europeus, sendo Portugal representado pela Lusosem e pelo Instituto Superior de Agronomia (ISA) - estuda o tremoço dos Andes (Lupinus mutabilis) como nova cultura agrícola ecológica para a Europa e está a desenvolver alimentos funcionais, cosméticos anti-envelhecimento e biomateriais a partir da planta e do fruto do tremoço.
No âmbito do LIBBIO, serão avaliados o potencial agronómico do Lupinus mutabilis na Europa (nova cultura neste continente), mas também o impacto ambiental e socioeconómico da cultura, a viabilidade tecnológica e rendimento industrial da mesma como matéria-prima para biorefinarias e, por fim, a apetência do mercado/consumidores europeus por produtos derivados do tremoço.
Os investigadores estão a estudar variedades de tremoço (não-OGM) e a sua adaptação às condições de clima e solo da Europa. O L. mutabilis é uma leguminosa, utilizada há mais de seis séculos, que pode ser cultivada em terras de várias qualidades, mas este projeto aposta no tremoço como opção cultural para ocupação de terras marginais na Europa, devido à sua reduzida necessidade de fertilização e elevada capacidade de fixar azoto no solo. Para avaliação do potencial agronómico e a adaptação do Lupinus mutabilis na Europa, estão a ser instalados campos experimentais em Portugal e na Holanda. O objetivo é testar variedades de tremoço dos Andes para produzir na Primavera-Verão, no Centro e Norte da Europa, e no Outono-Inverno, no Sul da Europa.
A Lusosem, que tem vasta experiência na cultura do tremoço em Portugal, participa no LIBBIO na componente de melhoramento, multiplicação de variedades/linhas promissoras, avaliação do potencial agronómico e adaptação de Lupinus mutabilis na Europa. Nos últimos anos, a Lusosem foi parceira no projeto + Lupinus, que estudou a utilização do lupinus albus, numa perspetiva transversal, testando diferentes variedades de tremoço branco, analisando o seu potencial produtivo e a sua adaptação às condições de cultura no território nacional, definindo as melhores práticas agronómicas (itinerário cultural) e fomentando a sua introdução nas rotações tradicionais, de sequeiro e regadio, com benefícios para os produtores com a introdução de uma cultura melhoradora e com potencial de criação de valor.
Outro dos objetivos do LIBBIO é o desenvolvimento de novos processos de transformação industrial do tremoço para uso na alimentação humana e animal, produção de prebióticos, cosméticos e como fonte de bioenergia. O consórcio europeu visa desenvolver novas tecnologias de transformação do tremoço (fruto) e obter subprodutos derivados desta leguminosa. No âmbito do projeto estão a ser experimentados vários métodos de extração e separação dos componentes do tremoço.
No workshop do LIBBIO, no Instituto Superior de Agronomia, estiveram presentes os parceiros de todas as entidades que integram o consórcio e foi explicado, perante cerca de 80 participantes, as várias tarefas do LIBBIO que decorrem em paralelo: melhoramento/multiplicação; cultivo; pré-processamento; aplicações; avaliação de sustentabilidade e viabilidade técnica e económica; difusão.
Na vertente do melhoramento, os responsáveis salientam que a abordagem do LIBBIO não contempla organismos geneticamente modificados (OGM). Em Portugal e na Holanda, os investigadores vão instalar ensaios de campo com as 230 amostras de germoplasma de L. mutabilis com que estão a trabalhar, tendo por base material genético oriundo do Equador ou que estava conservado no banco de germoplasma do ISA e Alemão.
Os investigadores do LIBBIO consideram que o tremoço dos Andes é uma alternativa à soja (OGM), porque tem um teor em óleo e de proteína equivalentes aos da soja, mas com vantagens agronómicas e ecológicas: reduzida necessidade de fertilização; elevada capacidade de fixar azoto no solo e de prevenir a erosão do solo; aumento da biodiversidade e maior sequestro de carbono. Relativamente à alimentação humana o projeto está a trabalhar no desenvolvimento de produtos alimentares à base de extratos desta leguminosa, têm sido testados usos com base no óleo (maionese, margarina), na proteína (leite, iogurte, smoothie, gelado) e na farinha (pão, massas, pastelaria).
No que diz respeito à utilização do tremoço dos Andes para alimentação animal foi referido que o L. mutabilis ainda não é utilizado na Europa como silagem, devido ao elevado conteúdo em alcalóides tóxicos – variedades “amargas” –, sendo necessário encontrar variedades “doces”, com baixos teores em alcalóides. Os investigadores do LIBBIO sublinham que já se consegue retirar cerca de 80% dos alcalóides existentes no existentes no Lupinus mutabilis. Assim, esta leguminosa pode ser usada para alimentação animal (de suínos, por exemplo) em combinação com outros alimentos, em dose menor (10%), aumentando o conteúdo nutricional.
Fora do âmbito agronómico e do complexo agroalimentar existem aplicações de ordem muito variada. A extração de proteínas do tremoço tem um largo espectro de utilizações para as quais só recentemente começaram a ter aplicações práticas. Essas aplicações vão desde a cosmética, à indústria farmacêutica, passando pela transformação e fabricação de produtos fitofarmacêuticos.
No workshop foi referido o BLAD, um polipéptido extraído a partir de sementes de tremoço germinado, descoberto por uma equipa de investigadores no ISA, e que está na base de um biofungicida produzido e comercializado pela empresa Converde (Problad Plus), já registado em diversos países para várias doenças de culturas hortofrutícolas e com outros registos em análise. Igualmente descoberta no ISA, a deflamina é uma proteína comestível com actividade anti-inflamatória e anti-cancerígena presente nas sementes das leguminosas. Estudos recentes verificaram que o L. mutabilis apresenta um teor elevado desta proteína, o que abre novas possibilidades de utilização para esta cultura.
Concluindo, neste workshop os investigadores do Projeto LIBBIO demonstraram que o Lupinus mutabilis ou tremoço dos Andes apresenta-se como uma nova alternativa com múltiplas utilizações com potencial na criação de valor.
Parceiros do projeto LIBBIO reunidos no ISA
Amarilis de Varennes, Presidente do ISA, e António Sevinate Pinto, administrador da Lusosem, na sessão de abertura
* O LIBBIO é financiado por fundos comunitários do programa Horizonte 2020, geridos pela parceria público-privada Bio-Based Industries Joint Undertaking. Esta plataforma reúne instituições públicas e bioindústrias europeias, tendo por objetivo reduzir a dependência da UE face à energia de origem fóssil, através do desenvolvimento de tecnologias de biorrefinação que transformem recursos naturais renováveis em produtos, materiais e combustíveis verdes.
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